O altar: união entre o céu e a terra [1]
O altar, do latim altare ou ara (latim clássico), elevação onde são feitas
ofertas sagradas, de altus, alto, elevado. Mesa onde se celebra o culto
religioso: subir ao altar.[2]
O significado do Altar é a ara antiga dos sacrifícios e a mesa do banquete
eucarístico, peça mais importante do edifício cristão [...] o altar e a sédia
são com destinos definidos para a ação litúrgica.[3]
O
homem sempre necessitou de espaços e lugares distintos para melhor se
relacionar com o transcendente, com o invisível, com o mistério. O espaço para
se encontrar com Deus em assembleia, para ler a Sagrada Escritura e celebrar a
Memória do Cristo Ressuscitado é chamado pelos cristãos de espaço litúrgico.[4]
A compreensão da relação espiritual do
espaço litúrgico se dá pela importância espiritual do espaço do culto, onde a
assembleia é definida como lugar teológico do autêntico culto espiritual. Nesse
sentido, a igreja, como edifício, à imagem da Igreja, dos fieis cristãos se dá
principalmente onde «a disposição geral do edifício sagrado seja tal que ofereça
uma imagem da assembleia reunida» (IGMR 257).[5]
A igreja
deve ser visualizada e vivenciada como imagem viva, moldada pela liturgia, é
por ela mesma, mistagógica para orientar, educar, conduzir e introduzir as
pessoas no mistério da Páscoa de Cristo que celebramos. O espaço litúrgico é
tomado de significados pascais e seu formato deve ser pensado a partir disto.
Contudo, como cristãos somos cristocêntricos,
onde o alicerce, o centro do espaço litúrgico é Cristo, a rocha, a qual é a
pedra do sacrifício. Nesse sentido, sacrifício significa sacrum facere, tornar sagrado. Assim, o altar é onde ocorre a união
entre o céu e a terra no sentido da liturgia, ou seja, segundo Claudio Pastro, o altar é Cristo, é
o lugar do mistério pascal, onde tudo converge para o altar e tudo flui como
rios de água viva desse altar, pois aí é selado o mandamento novo, o memorial
eucarístico.[6] O
altar é o centro e o coração do Corpo Místico. Ele dá testemunho silencioso do
encontro e da aliança selada entre Deus e os homens. É o altar que dá razão ao
espaço celebrativo e sacraliza tudo e todos que o envolvem.[7]
No sentido que o altar é Cristo, «discorrer
acerca de Deus não é uma questão teórica, mas prática. A acepção de Deus não é
um conceito doutrinário, aprendido e aceito intelectualmente, mas uma reflexão
sobre o relacionamento vital entre o ser humano e Deus».[8]
Assim, a Igreja local é a porção do povo de Deus (SC 26 e 41),[9]
a qual é a Igreja universal, que é a expressão concreta do Corpo de Cristo, que
se realiza na igreja local. O mistério, o
invisível, para os cristãos, manifesta-se na pessoa de Jesus Cristo,
representado no espaço litúrgico pelo altar.
No espaço litúrgico, o lugar sagrado, vai ser imagem que revela a
compreensão sobre Deus e seu agir, sua sacralidade e Mistério. A construção do
espaço, além da sua funcionalidade, deve preocupar-se com o aspecto simbólico
em recordar e apresentar Cristo, Mestre e Servidor, identidade de sua
comunidade. O espaço litúrgico deverá ser sinal do divino, presença do
transcendente, onde que o altar «ocupe um lugar que seja de fato o centro para onde
espontaneamente converge a atenção de toda a assembleia» (IGMR 262).[10]
A primeira exigência básica para o
estabelecimento do espaço litúrgico, segundo o Claudio Pastro, «a igreja como
criação é o Altar, no sentido básico de orientação de um povo de batizados, de
uma assembleia “voltada para o Senhor”. Conversus
ad Dominum. Só uma assembleia que
tem uma orientação para onde se voltar será modelada e permitirá modelar o
edifício».[11] Na
construção ou na adaptação do espaço litúrgico a assembleia dos fieis deve
estar disposta como povo reunido, “ao redor” do altar. Portanto, é primordial
quando for construir um edifício “igreja”, começar pelo altar de onde vai
emanar todo o alimento e a vida da comunidade reunida.
O projeto arquitetônico do espaço litúrgico deve
prever um programa iconográfico cristocêntrico, ou seja, tudo deve convergir
para o Cristo, da centralidade de Jesus e do Mistério Pascal. Nesse sentido, o
espaço revela a imagem do Cristo ressuscitado, glorioso em sua totalidade, em
proeminência no altar, que é «um só Cristo e uma Eucaristia na Igreja» (IGMR 303).[12] Assim, o altar é o centro,
o coração juntamente com o ambão e a sédia, e a assembleia, reunida como
comunidade, que é o corpo. Portanto, revela-se em um só espírito, como imagem
da Igreja em um lugar que irradia a fé e um espaço que como tal, manifesta a
presença e ação do mistério de Cristo.
[1]
Trabalho desenvolvido para a disciplina Fundamentos da Teologia: Cristologia da
Pós-graduação lato sensu em Espaço Litúrgico: Arquitetura e Arte Sacra, da UNISAL
– Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Unidade São Paulo, Campus Pio XI,
em 11 jul. 2017.
[2] Cf. Aline, fiscaliza com autonomia total. Origem da Palavra: Site de etimologia. Disponível em: http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/altar/. Acesso em: 11 jul. 2017.
[3]
Cf. PASTRO,
Cláudio. Guia do Espaço Sagrado. 3.
ed. São Paulo: Loyola, 1999. p.162
[4] PARO,
Thiago Aparecido Faccini. O Espaço Litúrgico como experiência Mistagógica.
Pensar Plural: Liturgia. Teocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 382.
[5] MISSAL
ROMANO. São Paulo: Paulinas; Petrópolis: Vozes, 1992.
[6]
Cf. PASTRO, Cláudio. Guia do Espaço
Sagrado. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1999. p.60
[7]
Ibid., p. 68.
[8]
AALTMANN, W. Lutero e libertação. pp.47-48 apud
BOMBONATTO, Vera Ivanise. Seguimento de
Jesus: Uma abordagem segundo a
cristologia de Jon Sobrino. São Paulo: Paulinas, 2002. p. 157.
[9] Cf. CONSTITUIÇÃO
Sacrosanctum Concilium sobre a
Sagrada Liturgia. In: CONCÍLIO VATICANO
II. 1962-1965. Vaticano II:
mensagens, discursos, documentos. São Paulo: Paulinas, 1998.
[10]
MISSAL ROMANO. São Paulo: Paulinas; Petrópolis:
Vozes, 1992.
[11] PASTRO, Cláudio. Guia do Espaço Sagrado. 3. ed. São
Paulo: Loyola, 1999. p. 31.
[12] MISSAL ROMANO. São Paulo: Paulinas;
Petrópolis: Vozes, 1992.